Um amor além das dimensões
- Samuel Lucas
- 9 de mar.
- 5 min de leitura

Capítulo 1
O professor
— Bom dia a todos e sejam bem-vindos a turma de 2025, meu nome é Lucca Vincenzo, professor doutor em física e matemática. Hoje ficaremos com nossas apresentações, a abertura a este novo ano que será de muito aprendizado. Alguns já ouviram coisas a meu respeito, mas ainda sim irei pontuar algumas; não gosto de atrasos, sejam pontuais, não admito conversas desnecessárias, entretanto valorizo conversas e perguntas que sejam pertinentes ao nosso aprendizado. Apesar de minha fama percorrer estes corredores se forem respeitosos comigo serei com vocês.
Uma das apresentações mais fascinante da universidade de Florença, renomada em seus cursos de matemática e física que no passado esteve presente Galileu Galilei, um gênio, mas Lucca não ficava para trás.
Considerado um dos melhores professores do país, sério, dedicado, compromissado. Um profissional admirável, e por mais que o ar de ser uma pessoa sempre fechada e de poucas conversas mascarava sua solidão, seus traumas, seus sonhos, e como todo homem chegando à casa dos 30 anos, a preocupação se irá casar, ou melhor, se terá um amor.
Lucca já havia namorado antes, se entregado a alguém e este alguém impiedosamente o machucou, fazendo-o pular na ciência, se tornar uma pessoa exata, porém com sonhos e desejos da área humana, principalmente o amor. Mas, por hora, a física era sua paixão, seu amor, quase um casamento com o trabalho, e não se pode culpá-lo, depois de tantos traumas é difícil continuar com a mesma convicção, força e coragem em procurar o amor.
Nossa vida é cheia de altos e baixos, uma grande montanha-russa, às vezes lá embaixo, sem perspectiva, desolados, abandonados, logo estamos em cima, amando, sendo amados, felizes, sorrindo, sentindo um turbilhão de sentimentos. Para muitos isso é ruim, para alguns, o nome disso é viver! No caminho da montanha-russa chamada vida, podemos perder quem está ao nosso lado, mais jovens ou mais velhas, a vida não se prende aos detalhes de faixa etária, cor, raça, etnia, quando a ampulheta do tempo de Deus cai os últimos grãos de areia perdemos às vezes quem mais amamos.
Assim foi na vida de Lucca, aos 7 anos, os grãos de areia de seus pais caíram, e tragicamente em uma noite de chuva na volta para casa, o carro veio a se descontrolar e tragicamente Lucca perdera seus pais. Há como não marcar a vida de uma criança?
Não completamente abandonado, foi criado por sua tia materna, que com muito amor e carinho o cuidou, formando seu caráter íntegro, cavalheiresco, educado, um clichê romântico, de emoções intensas, mas todas essas qualidades ele lutava para esconder, uma tentativa fútil de não se expor, mesmo havendo o desejo de se mostrar verdadeiramente para uma mulher, a digna para tal coisa.
Vivendo uma vida difícil, sem muitos amigos ou familiares por perto, a solidão era uma companheira a ele, e não havendo nada a se fazer, números, fórmulas, teorias da física, problemas matemáticos o fazia companhia, e assim ele ia levando sua vida. Mas apesar de tudo isso, não fazia sentido já que Lucca era extremamente bonito, desejável, de presença marcante, com 1,81 de altura, cabelos pretos e lisos com um penteado sofisticado, olhos castanhos, rosto charmosos, maxilar e boca bem definidos e um sorriso hipnotizante, ele sempre atraia olhares e desejos das mulheres, só havia um problema, nenhuma delas lhe chamava atenção. A solidão só aumentava.
Um dia após o outro ia se vivendo, sem muita esperança ou expectativa, mais existindo do que propriamente vivendo. Como ele morava perto da universidade, caminhava diariamente o trabalho, fazendo jus ao seu nome de renome, bem trajado, elegante, sem nenhum sorriso, e mesmo assim olhares o flechavam incessantemente.
— Na aula de hoje, teremos um estudo na cosmologia, sendo mais preciso, veremos a teoria de multiversos. Espero que gostem!
Disse Lucca, ao entrar pela porta da sala entusiasmado com a aula que iria ministrar.
Alguns alunos, compartilhando a mesma euforia de seu professor, já começaram as perguntas:
— Professor doutor, podemos viajar para outros mundos?
Um já perguntava ansioso.
Antes mesmo que Lucca respondesse, já havia outra pergunta:
— Quantas terras existem? Eu existo em todas?
Notava a felicidade pela aula nas perguntas dos alunos, e no quanto mais se faziam perguntas. De início, Lucca respondeu apenas essas três:
— Não, ainda não podemos viajar para outros mundos, até porque seria necessário refutar muitas leis que a física acredita solidamente. Há a teoria de existirem infinitas terras, de infinitas formas assim como você. Em uma você pode ser branco, outro moreno, em alguma ser músico, em outro médico e assim por diante.
Foi uma aula inesquecível, os alunos não queriam sair dela, e mesmo que seja apenas uma teoria muitos queriam que fosse uma realidade, inclusive Lucca.
Naquele dia ele queria absurdamente que fosse possível viajar entre mundos, para ele pudesse cruzar o espaço-tempo, viajar para um novo mundo e ver seus pais, mesmo que eles não o conheceriam, mas de longe, ver, matar a saudade, e até mesmo se acontecera um abraço, tirar um pouco a solidão e tristeza do seu coração. Esses pensamentos o torturavam, justamente pela data que chegava, dois de maio, seu aniversário e junto dele, a data de falecimento dos seus pais.
A dor era absolutamente profunda, Lucca chorava descontroladamente!
Ao nascer do seu aniversário, na visão de Lucca até o dia era mais escuro e sem vida, e se ele pudesse pular esse dia ou apagá-lo para sempre assim iria fazer, mas, nada podia ser feito, apenas aguentar firme até o dia acabar. Arrumou-se, foi para o trabalho, recebido com salvas de palmas e abraços calorosos, ele disfarçava sua dor, implorando agoniadamente para o dia acabar. Chegando à noite, em casa, recebeu mensagem de sua tia que estando em viagem o mandou suas felicitações mesmo estando longe, assim com a lote escura, esse era o dia que ele desesperadamente queria que acabasse.
Dormira no sofá. Por volta das 23:30 a campainha toca, uma chuva caia sobre Florença, ele meio sonâmbulo se levantava, se perguntando quem seria a essa hora. Ao abrir a porta não havia ninguém, ele olhava para a rua, procurava e lá não estava ninguém, mas no chão, ao tapete estava algo, uma caixinha de presente e um cartão preso a ela.
Entrara, sentou-se, ao ler o cartão dizia assim:
"Lucca, eu mais do que ninguém sei a dor desse dia, e seu único pensamento de viajar para outro mundo para ver mesmo longe aqueles que hoje não estão aqui e fazem desse dia escuro, frio e solitário. Use bem e com sabedoria que eu sei que você tem!"
Abriu-se a caixa, dentro um colar, com uma pedra muito rara, brilhante. Lucca achou bonito, e como nunca recebia presentes, colocou o colar sem entender muito a mensagem que o acompanhava. Assim ele dormiu, finalizando aquele dia que Lucca considerava amaldiçoado. E como cereja do bolo, Lucca sonhava, reencontrando seus pais, abraçando-os, chorando, tendo dias normais, uma vida normal sem se quer conhecer a palavra solidão, tristeza, luto, saudade, mas era apenas isso, um sonho.
Ele acordou completamente suado, sua respiração ofegante, descontrolada, chorando. Levantou-se para beber água, mas havia coisas diferentes, os sons diferentes, e a casa também. A casa estava empoeirada, os móveis cobertos por um lençol, tudo isso o deixou assustado bem mais que o sonho, e ao sair para a rua teve um susto enorme. As árvores da avenida onde ficava a universidade marcadas por uma colocação amarelas como ipê, não existiam mais, nem se quer raízes ao chão.
Os carros eram mais modernos, as pinturas e fachadas dos prédios e casas divergentes ao que ele conhecia, não se tinha os sons de passarinhos como havia nas árvores da universidade, tudo aquilo era estranho, confuso e amedrontador.
Ele, completamente perdido e espantado, com uma voz trêmula pergunta:
— Afinal, onde eu estou?
continua...
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